A Árvore dos Frutos Selvagens

O cineasta turco Nuri Bilge Ceylan foi uma das gratas surpresas cinematográficas que tive, cerca de dois anos atrás, ao assistir a maravilhosa obra "Sono de Inverno" (2014), a qual fiquei realmente impactada com tamanha sensibilidade e maestria.

Embora ainda seja um cinema de difícil circulação no circuito comercial brasileiro, bem como outros, coreano, iraniano, nórdicos, por exemplo, quando há uma oportunidade de ver um filme de um grande diretor em festival ou mostra, sempre é gratificante.

O novo filme de Ceylan, "A Árvore dos Frutos Selvagens" (2018), exibido no final do ano passado na Mostra Internacional de São Paulo, é uma obra autoral que narra a história de Sinan (Aydin Dogu Demirkol), um jovem apaixonado por literatura que sonha ser um escritor, que se empenha em juntar dinheiro para conseguir publicar seu primeiro livro.

De volta à aldeia natal, após concluir o curso de pedagogia em Istambul, depara-se novamente com os problemas familiares: o pai, Idris (Murat Cemcir), professor em vias de se aposentar,  viciado em jogo que torra todo salário e a mãe (Bennu Yildirimlar) precisa trabalhar para sustentar a casa e pagar dídivas feitas pelo marido. Em crise existencial, Sinam ainda enfrenta uma outra questão, a qual também o angustia: a sobrevivência. Para ele, só há apenas o magistério e a literatura, mas, no entanto, a realidade e as circunstâncias o forçam a buscar alternativas.

A trama se dá no desencanto: o amor da sua infância, Hatice (Hazar Ergüçlü), que casa-se com um homem rico da cidade, o livro que escreveu que ninguém se interessa em publicar, as discussões intermináveis com a família, os Imãs locais (lideres religiosos), o prefeito, com o consagrado escritor da cidade, Suleyman (Serkan Keskin) e tantos outros. À medida que o filme avança, o abismo entre Sinan e Idris parece ser menor do que realmente parecia. 

Além das ótimas atuações, destaco a fotografia assinada pelo diretor de fotografia Gökhan Tiryaki (que é belíssima por sinal), num trabalho em conjunto com a direção de arte, em que os enquadramentos, paletas de cores, bem como os silêncios, expressam sentimentos das personagens, principalmente do protagonista.

Embora seja um filme bem longo, um pouco mais de três horas, "A Árvore dos Frutos Selvagens" não é para espectadores apressados. Lento, mas com uma narrativa bem fluida e construída, que aborda questões filosóficas, política, religiosas e literárias; uma obra cinematográfica regida com maestria.

 

 

 

 

 

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