No “Festival Internacional de Documentários – É Tudo Verdade”, evento realizado por Amir Labaki, jornalista, crítico de cinema e curador do Festival, dentre os filmes, havia um documentário na programação que me chamou muito a atenção. Ao ver o trailer “Das Almas”, dirigido por Tiago Tambelli e Guilherme Canton, vi que tinha algo especial. E foi aí que minha saga iniciou, pois o filme estava circulando apenas em Festivais.
Quase um ano depois, eu consegui ver o tão desejado documentário. E agradeço imensamente ao cineasta Tiago Tambelli, principal responsável por fazer a alegria dessa cinéfila incorrigível, e o Eduardo Abe Ferrardo, no qual compartilho aqui o meu olhar em relação ao filme.
O documentário “Das Almas” é embalada pelas canções originais de Gustavo Monteiro e as belas pinturas de Raimundo Cela (1890 – 1954), artista que representou o cotidiano de pescadores, vaqueiros, jangadeiros e rendeiras cearenses em suas pinceladas precisas e paletas de cores suaves e luminosas.
As obras e a música conduzem o espectador a mergulhar nesse universo, em que o real, o imaginário e a fé se encontram, preparando-o, de certa forma, para observar, sem pressa, as belezas que também se apresentam no cotidiano.
O documentário tem como fio condutor a história da beatificação de Adelaide Elias Tahin (1882- 1929), uma mulher muito caridosa, que nasceu em Belém, na Palestina, que veio para o Brasil com o marido, Demetrio Elias Tahin, fugidos da guerra, onde passam a residir no distrito Almas, em Camocim, no Ceará.
Após seu falecimento, Adelaide apareceu para um agricultor, que pedia a ele, para comunicar à família que ela queria ser sepultada em Pontal, no distrito de Bitupitá. Após provar que a história do homem era verdadeira, o marido atende ao pedido da esposa falecida. Ao exumar o corpo, após 48 dias depois de sua morte, na presença de autoridades e da população, o corpo exalava perfume de rosas. A partir daí, o novo túmulo de Adelaide passou a ser alvo de romaria que dizem ter conseguido alcançar graças através dela.
Através das memórias dos moradores da vila de Bitupitá, situada no litoral oeste do Ceará, os cineastas resgatam não apenas as histórias que acerca Adelaide, mas traz a questão da religiosidade popular e cultura imaterial dos pescadores da região, que tem como principal fonte econômica a pesca de curral.
“Das Almas” é um documentário belíssimo e poético, que vale muito a pena assistir. Fica aqui a minha recomendação.