“Mandariinid”: ilógica dos conflitos armados

O longa-metragem “Mandariinid” (Tangerinas), do diretor e roteirista georgiano Zaza Urushadze, indicado ao Oscar 2015 como Melhor Filme Estrangeiro, é um drama seriocomic. O cineasta traz um ponto de vista diferente do que costumamos ver nos filmes de guerra.

A história se passa numa vila situada em Abkházia, na Georgia, que traz como pano de fundo a guerra sangrenta que ocorreu na Abkházia, em 1992, após a separação da URSS. A guerra durou cerca de dois anos, período em que muitos estonianos retornaram à sua pátria.

Nesse contexto, encontra-se Ivo (Lembit Ulfsak) e seu vizinho/amigo Margus (Elmo Nuganen), que ainda permanecem na vila para colher a safra de tangerinas. Certo dia, ambos se veem no meio do conflito armado de dois pequenos grupos de soldados que, após o confronto, apenas sobrevivem dois homens de lados opostos da guerra.

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Gravemente feridos, são acolhidos por Ivo que, juntamente com seu amigo Magus, cuidam de seus ferimentos. O espírito de hostilidade ainda permanecia ali, mas agora em baixo do seu teto. Ivo estava diante de uma bomba relógio que poderia estourar a qualquer momento.

Ivo torna-se mediador/inibidor/negociador do conflito entre os rivais hospedados em sua casa – o checheno Ahmed (Giorgi Nakhashidze) e georgiano Niko (Mikheil Meskhi). O clima passa a ficar mais tenso e incerto. O silêncio, que prevalece na maior parte do tempo, torna-se perturbador. Essa atmosfera leva esse espectador à suspensão.

Em “Mandariinid”, o próprio título do filme é uma metáfora sobre a relação do homem com a terra, não apenas como solo em que obtém seu sustento, mas aonde vinca suas raízes e sua história. Além de questionar os valores humanos e a ilógica da guerra.

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Os diálogos dos personagens também merecem atenção. Embora haja poucos, todos são bem colocados em “Mandariinid”, inclusive, há uma cena em que Ivo, Magus e o Médico empurram um carro do exército num penhasco. O espectador acompanha a queda. O silêncio é cortado com as falas a abaixo. Esse diálogo é uma autocrítica irônica ao cinema, principalmente o “estilo hollywoodiano”. 

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Nas cenas finais, a canção "Qavagadi Navi" (Um Barco de Papel), do poeta, músico e compositor georgiano Irakli Charkviani, parece abarcar a profundidade do filme. Embalado pelas suas notas melancólicas e poéticas, o espectador vê pela primeira vez a amplitude do local.