Por Amando Neto, jornalista e escritor.
Nunca estive no Louvre, este é um daqueles sonhos que ainda pretendo realizar, mas não há necessidade da presença física para ter a dimensão deste museu aos amantes da arte e história.
O filme “Francofonia – Louvre sob ocupação”, dirigido pelo russo Aleksandr Sokurov, além de ressaltar as belezas e representatividade artística, revela uma história maravilhosa, de como o Louvre foi capaz de superar as diferenças e unir seu então diretor, o francês Jaques Jaujard (Louis-Do de Lencquesaing) com o Conde Wollf-Metternich (Benjamin Utzerath), general nazista, em torno de um propósito, preservar o patrimônio cultural do museu durante a 2ª Guerra Mundial.
As imagens da invasão alemã à Paris resgatam a crueldade da 2ª Guerra Mundial, dominação imposta pelos nazistas às populações vencidas. As tropas avançam em uma Paris praticamente deserta, pois grande parte da população havia seguido o governo, que se exilara no interior francês. Aliás, o filme se passa neste momento histórico, da divisão francesa, quando Paris ficou sitiada, governada pelos alemães.
Imagens de arquivos da chegada de Hitler deixam claro sua notória admiração pela cidade e pelas artes. Sua preocupação logo de cara era constatar se as belezas arquitetônicas estavam preservadas. O gosto de Hitler pelas artes e sua guerra baseada na ampliação do território germânico esbarram, inevitavelmente,na comparação com Napoleão Bonaparte, o imperador francês que também tivera seu momento de conquistador do mundo. Napoleão (Vincent Nemeth), por meio de seu fantasma, habitante do Louvre, ressalta a sua importância em formar o museu com os objetos artísticos “retirados” de várias localidades, verdadeiros troféus de suas conquistas.
Vencedor de vários prêmios internacionais, o filme mescla imagens históricas com ficção, e utiliza de uma linguagem bastante experimental e hibrida. Em alguns momentos parece um documentário narrativo, em outros assume ficção mais tradicional, intercala imagens do museu, de personagens da época, passeia pelas próprias formas do cinema.
Francofonia louva a arte como a forma de unir as mais complexas diferenças e gerar identidade ao homem. A arte como elemento ímpar para conduzir a humanidade em prol de caminhos mais salutares, mesmo diante dos momentos mais sangrentos da história.

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