“Gokseong”, no Brasil, intitulado como “O Lamento”, é uma obra cinematográfica sul-coreana que merece uma atenção especial do espectador. Marcado por uma narrativa implacável e imersiva, o cineasta e roteirista Na Hong-jin nos apresenta um enredo enigmático, e na medida que a história avança, simplesmente nos tira o chão sem hesitar.
O terceiro longa-metragem do realizador, sendo os anteriores “O Caçador” (2008) e “The Yellow Sea” (2010), reafirma sua maestria na tanto na direção quanto no roteiro. Complexo e obscuro, nós, espectadores, deparamos juntamente com o protagonista, Jong-goo, um policial local mediano e atrapalhado, interpretado por Kwak Do-won (de “A Taxi Driver” (2017), “Parasita” (2020), entre outros títulos), com uma cena aterrorizadora de um crime. Outros eventos dessa natureza passam a ocorrer no até então pacato vilarejo interiorano de Gokseong, coincidindo com a chegada de um estrangeiro, um misterioso idoso japonês (Jun Kunimura), bem como o surgimento de uma estranha e inexplicável doença. Desconfiança, pânico e caos se instauram.
Trama e subtramas se entrelaçam, e quando novas evidências são descobertas numa casa nas montanhas pelos policiais Jong-goo e seu parceiro, mais perplexo ficam. A tensão aumenta quando a filha do protagonista, Hyo-jin (Kim Hwan-hee) também passa a manifestar os mesmos sintomas do caso a qual está investigando.
O diretor subverte as expectativas. Ninguém é poupado da crueza e do constante incômodo e agonia, inclusive nós, espectadores, provocados constantemente pelos fatos que vão se desdobrando, das reviravoltas, que ocorrem ao longo do filme, potencializado pela frieza da fotografia, que também se faz uso da luz natural, da umidade e do tempo chuvoso, mescladas a elementos como o folclore sul-coreano, a religião, o sobrenatural, criticas sociais, alegorias políticas, sobreposição de gêneros cinematográficos, que vão dando corpo a história, bem como na criação dessa atmosfera sombria e aterradora, mas, levado a outro nível.