Premiado no International Film Festival Rotterdam e de Sheffield International Documentary Festival, em 2018, o curta documental "Streat 66", da jovem cineasta e artista nigeriana britânica Ayo Akingbade, que compõe a trilogia de habitação social "No News Today", juntamente com "Tower XYZ" (2016) e "Dear Babylon" (2019), é um retrato singular da ativista ganense Dora Boatemah (1957-2001), do qual perpassa por questões de habitação e gentrificação do espaço urbano.
Construído a partir entrevistas e materiais de arquivos (fotografias e vídeos do Angell Twon Community Project e da família de Boatemah), com influências do cinema da franco-belga Agnès Varda (1928-2019), uma das precursoras da Nouvelle Vague francesa, e do cinema de Willians Greaves (1926-2014), um dos pioneiros do cinema afro-americano, a cineasta envolve o espectador ao narrar história de uma mulher negra que teve um papel fundamental na liderença de um movimento local, que, nos anos 80 e 90, transformou a vida da comunidade de Angell Twon Estate, em Brixton, no sul de Londres.
"Street 66" lança luz aos esforços da inspiradora Boatemah na luta por melhores condições de moradia e pelo direito dos inquilinos de votar no futuro de suas próprias propriedades, apresentando vozes e perspectivas sub-representadas nos espaços urbanos, bem como celebra a representatividade negra e da classe trabalhadora no cinema britânico.
Há um resgate de memória coletiva, que para o sociólogo francês Maurice Halbwachs (1877-1945), é compreendido como um processo de reconstrução do passado vivido e experimentado por um grupo, mas, sobretudo, contra o seu apagamento/esquecimento dessas memórias, em que os entrevistados assumem o papel de rememorá-las.