Sob a Pele – Under The Skin

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Por Murillo Perecinotto

Sob a Pele (Under The Skin), talvez tenha chamado mais atenção mundo afora pela cena em que Scarlett Johansson aparece completamente nua frente a um espelho, do que a obra em si, devido ao fato de que de baixo de toda essa construção de mulher perfeita que Hollywood faz com as mulheres, incluindo Johansson, existe uma mulher comum, de corpo comum, de beleza comum, que não deixa de ser muito belo em sua naturalidade. Mas esse assunto fica para outro tópico, certo?

A nudez de Johansson dá o tom da trama. O filme de Jonathan Glazer é baseado no livro homônimo de Michel Faber, onde a personagem de Scarlett Johansson é uma forma de vida extraterrestre, que está na Terra sob o corpo de uma mulher perfeita para usar sua sensualidade para caçar seres humanos. A obra se passa na Escócia e sem muitos atores conhecidos (e até atores amadores), a exceção da loira, que aqui pareceu abrir mão dos blockbusters para se aventurar em algo mais intenso e não tão comercial.

Um aspecto bem interessante do filme é a desconstrução do estilo de "caça", no que se refere à presa/predador. Aqui, a alienígena não demonstra ter exímia força muscular ou destreza física, o que exige que se crie outro método, baseado na sedução. Sem muitos diálogos por parte da personagem, e pouquíssimo (ou nenhum) contato físico, o que mostra outro contraponto sempre muito evidente na história humana – a constante necessidade masculina de sexo facilita o caminho para a alienígena atrair suas presas em seu covil e lá dar o fim necessário a elas.

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Outro ponto interessante é que o predador é um sujeito sensível, onde todas as suas ações devem ser muito bem calculadas, pois não há muita margem para improviso, visto a aparente fragilidade da personagem. No filme, essa fragilidade é abordada em dois momentos com algo que milhões de mulheres no mundo sofrem: abuso sexual. O uso de força excessiva por parte do homem para fazer da mulher, sem o seu consentimento, objeto de satisfação de desejos. No filme não chega a acontecer nada de fato, mas a iniciativa das cenas deixa claro qual seria o desfecho.

Por fim, o clímax do filme é emocional, a alienígena começa a sentir conflitos com seus deveres na Terra, e passa a se envolver em relações sociais, provocando um conflito entre ela e seu "superior", o que cria, em minha opinião, um desfecho muito bem construído, levando o contexto do título ao pé da letra.

O filme é sobre alienígena, mas parece mais sobre as relações humanas e sociais e os conflitos que a sociedade tem que criam as dificuldades do convívio em grupo. Por fim, esse filme é mais humano do que extraterrestre.

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