“É meu destino percorrer esse corpo amazônico, sua pele tatuada de rios, florestas e rastros de seres de todos os tipos, é organismo imponderável. Mas é na rota das longas e trágicas estradas da região que surgem os encontros”.
Paula Sampaio
Os projetos fotográficos da mineira Paula Sampaio impressionaram-me pela poética e a força que há em suas imagens ao registrar o cotidiano dos quilombolas que vivem às margens das estradas, mas, principalmente, da Rodovia Transamazônica, criada no governo Médici, conhecido como “os anos de chumbo”, durante a ditadura militar.
Em “Antônios e Cândidas têm Sonhos de Sorte”, projeto que foi iniciado nos anos 1990, bem como “Fronteiras”, realizado em paralelo, Paula Sampaio fixa no tempo fragmentos da realidade de homens e mulheres através da sua fotografia. Segundo Boris Kossoy, no livro “Fotografias & História”, “é a perpetuação de um momento, em outras palavras, da memória: memória do indivíduo, da comunidade, dos costumes, do fato social, da paisagem urbana, da natureza”.
Essas fotografias atravessam questões sociais, as fragilidades humanas, memórias, resgatam as histórias das comunidades, apresentando um riquíssimo acervo que nos leva a refletir o mundo que nos cerca. São projetos pautados “pelo incômodo, pela impertinência e pelo posicionamento limítrofe entre sonho e realidade, melancolia e êxtase”.