"O futebol entra em campo na tela grande, mesmo que às vezes pelas portas dos fundos, sem bater nem pedir licença".
Luiz Zanin Oricchio (extraído do livro "Fome de Bola – Cinema e o Futebol Brasileiro")
A temática esportiva aparece ao longo da história do cinema, seja ela sobre o boxe, beisebol, hipismo, futebol americano, patinação, basquete, e as próprias olimpíadas, tanto em produções documentais ou ficcionais, como pano de fundo para criar uma trama ou não. E no cinema brasileiro não foi diferente.
Entre as produções cinematográficas brasileiras que abordam o tema, é sobre o futebol que constitui um corpus fílmico significativo, mesmo que ainda permaneça a impressão de que é dada pouca importância à modalidade. Num país marcado pela desigualdade social, o futebol – que uniu "muitas dimensões simbólicas na sua invejável multivocalidade"1, "hino e povo, que consorciou camisa e bandeira, que popularizou a ideia de pátria e de nação como algo ao alcance do homem comum"2 – e o cinema constituem-se como "poderosas representações de valores e desejos que permeiam o imaginário do século XX"3.
Foto com os jogadores do fluminense para o filme "Futebol em Família" (MIS RJ)
Ao olharmos para as nossas produções, há um filme de 1932, “Campeões do Futebol”, de Genésio Arruda, escrito pelo poeta Menotti Del Piacchia, já no período sonoro, pode ser considerado um marco inaugural ao abordar sobre o futebol. Em 1938, tem “Futebol em Família”, de Rui Costa. E aí não parou mais, a temática ora e outra sempre vem à tona, e às telas.
O ex-jogador Pelé, Edson Arantes do Nascimento, batizado como o “Rei do Futebol”, não apenas brilhou nos gramados como deixou sua marca no cinema. Um dos filmes, ao qual destaco, é o documentário “Isto é Pelé” (1974), com direção de Luiz Carlos Barreto, mostra sua vida, legado e conquistas do futebol brasileiro, focando as Copas do Mudo de 1958 a 1970. E tem um anterior, de 1962, “O Rei Pelé”, do diretor argentino Carlos Hugo Christensen, uma cinebiografia prematura, pois durante a sua produção, Pelé, com seus 22 anos, ainda conquistaria a Copa do Mundo, o Brasileiro, Libertadores e, ainda, o Intercontinental pelos Santos. Porém, isso não faz o filme um registro menor, muito pelo contrário.
Inspirado no livro "Nunca Houve um Homem como Heleno", do jornalista Marcos Eduardo Neves. A cinebiografia "Heleno" (2012), dirigida pelo cineasta José Henrique Fonseca, retrata a intimidade de Heleno Freitas (1920-1959), jogador visto como o príncipe do Rio de Janeiro, dos anos 40, que foi um dos grandes nomes do Botafogo, interpretado pelo ator Rodrigo Santoro. Uma figura complexa, ao mesmo tempo em que apresentava talento nos gramados, exibia charme na noite carioca e impunha polêmica no atrito com adversários.
Cena do documentário "Minas do Futebol", de Yugo Hatorri
Um outro filme é o premiado “Minas do Futebol” (2018), do diretor Yugo Hatorri, documentário acompanha o time do A.D. Centro Olímpico, formado por meninas, relembrando a vitória no campeonato Moleque Travesso e a participação do primeiro Campeonato Paulista Sub-17, sendo um time Sub-15 competindo com garotos.
Para ampliar o repertório a respeito do assunto, indico a leitura do livro "Fome de Bola – Cinema e Futebol no Brasil", do crítico de cinema e editor cultural Luiz Zanin Oricchio, da Coleção Aplauso, publicado pela Imprensa Oficial. O livro interessantíssimo, de conteúdo muito rico, que ainda traz uma relação de filmes, análises, entrevistas com cineastas e outras personalidades ligadas a temática. Uma obra bem abrangente.
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1 e 2 – extraído do livro " A bola corre mais que os homens" (2006), do antropólogo Roberto DaMatta.