Livro do escritor Luiz Biajoni ganha capa assinada pelo artista Matheus Souza

Sempre penso que, se alguém fosse produzir um filme sobre a vida de James Amaro, a primeira cena poderia ser de James em seu Grande Carro Branco, eu nunca lembro qual a marca, sou péssimo com detalhes, rodando pela Avenida Principal num domingo de manhã: o calção branco até os joelhos; a camisa colorida, com uns botões abertos; os óculos escuros espelhados; a barba e os cabelos grisalhos, bem aparados; um jazz tocando alto; as janelas abertas deixando o vento entrar; o cotovelo para fora – um velho lobo insaciável perscrutando as meninas que aproveitam o sol do verão para caminhadas ou pedaladas, as garotas com seus shorts pequenos e as camisetas sem mangas, fones de ouvido, cabelos presos em rabos de cavalo, pernas bem torneadas; mulheres passeando com seus cães, abaixando para amarrar os tênis enquanto deixam escapar um pouco mais da anatomia; o suor a escorrer pela testa ou pelas costas, tudo em câmera lenta, todos os detalhes na visão daquele caçador experiente, cheirando bem, a perfume importado.

(extraído do livro "A Viagem de James Amaro", de Luiz Biajoni)

 

No mês de julho, entre 9 a 31, o Sesc Campinas realizou um evento lindo, o “Lá Fora Frio, Aqui a Mil”, que foi uma viagem incrível pela universo da literatura, a qual tive a oportunidade de participar e conhecer vários autores.

Em um desses encontros, conheci o escritor e jornalista Luiz Biajoni, que traz na bagagem livros, tais como, "A Comédia Mundana" e "Elvis & Madonna [Uma novela lilás]. Mas, recentemente, me deparo com a notícia de que Biajoni havia lançado em Portugal, pela Chiado Editora, o livro “A Viagem de James Amaro” ( também com edição brasileira), que narra o encontro de dois grandes amigos de infãncia que perderam o contato. Após anos sem notícias um do outro, é por acaso que os dois se esbarram em um corredor de supermercado. James Amaro está fugindo de sua amante ninfeta que o coloca em uma situação perigosa e Alex Viana está cogitando a sério o suicídio. É por impulso que eles embarcam em uma viagem de carro rumo a Paraty e, durante o percurso, se conhecem novamente, descobrindo a história que cada um construiu para si. Com uma escrita viciante, Luiz Biajoni cativa o leitor a cada frase. Como se fosse um road movie, é impossível largar as páginas de A viagem de James Amaro antes que a narrativa chegue ao fim.

Para minha surpresa, e boa por sinal, a capa ganha nova versão, agora pelas mãos do amigo Matheus Souza, ilustrador, artista e estudante de Artes Visuais pela FAAL (Faculdade de Administração e Artes de Limeira), interior de São Paulo. 

 

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Para essa edição, a capa traz uma estética que, particularmente, gostei muito. Minimalista, cores vibrantes e elementos que dialogam com a narrativa do romance, e, ao mesmo tempo, estabelece uma espécie de harmonia em seu conjunto. Matheus busca ”criar associações não óbvias" com o intuito de alinhar tanto a temática quanto o pretendia transmitir ao leitor através da ilustração, instigando-o a leitura. A ilustração consegue sintetizar o conteúdo do livro. 

Segundo Matheus, em entrevista cedida  a nós, do EntreLinha, a capa do livro ”não segue algo convencional de ter uma tipografia precisa para o nome, ela é feita de modo impreciso e manual e talvez esse resultado analógico torne a peça mais próxima de algo palpável do que se fosse desenvolvida completamente por meios digitais”.

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“Quando o Biajoni pediu uma proposta de capa para a edição em Portugal, busquei algumas referências editoriais e de festivais de jazz do país. Da pesquisa que fiz, lembro que um estúdio em específico tinha uma produção muito interessante relacionada com a questão do gráfico que era o Silvadesigners e o que percebi das produções era a utilização de recursos analógicos, que posteriormente trabalhados com meios digitais resultavam em peças bem interessantes, do qual também envolvia um pouco da questão intuitiva e do acaso nesse processo criativo. Nesse caso, eu já tinha como ponto de partida uma apropriação técnica que serviria de linguagem para inserir nesse meio cultural”, menciona Matheus.

Além disso, também chegou a adaptar o conteúdo gráfico do livro quando Biajoni lançou-o no Brasil, em 2015, que tem a capa assinada pelo artista Lourenço Mutarelli, para marcadores de páginas e capa de um CD fictício.“Tem sido muito bacana, desde que comecei a conversar com o Biajoni pude colaborar com projetos fantásticos dele! [Um trabalho que] abriu as portas e agora com essa publicação a visibilidade no trabalho aumenta e enriquece o portfólio, além de estar trabalhando ao lado de um escritor que sou fã e agradeço a oportunidade”, afirma. 

Confira o resultado: 

CD fictício do livros "A Viagem de James Amaro" CD fictício do livro "A Viagem de James Amaro"

Acesse aqui para ver outros projetos desenvolvidos pelo Matheus e também não deixe de conferir o livro "A Viagem de James Amaro" e outros títulos do escritor Luiz Biajoni (veja aqui). Boa Leitura!