por Matheus Souza, artista e ilustrador.
A relação entre o filme “O Abraço da Serpente” 2016, do cineasta colombiano Ciro Guerra, e a série do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, “Gênesis – Obras Selecionadas” se deu enquanto trabalhava na mediação de sua exposição no Sesc Campinas, evento que ocorreu entre maio a julho de 2016. Na ocasião, um colega recomendou o filme, e foi impossível não criar relações entre esses trabalhos, principalmente quando se está imerso nessa temática.
Quem conhece o trabalho de Sebastião Salgado sabe que geralmente suas fotografias tendem a ser preto e branco, uma característica fundamental. Para ele, é um meio de neutralizar as informações visuais das cores e voltar o olhar para o conteúdo de situações (visto que explora muito as questões sociais, e a fotografia é uma ferramenta tão útil para registro quanto para a estética de seu trabalho).
Fotografia de Sebastião Salgado – Gêneses
Sabendo que o trabalho dele é preto e branco, já podemos estabelecer a relação com o filme, que também é rodado completamente em P&B, mas as relações da obra vão além da estética, revelando em seu conteúdo uma temática tão similar quanto a investigação de “Gênesis”, que Salgado produziu.
O filme“O Abraço da Serpente”, conta a história de um explorador europeu que conta com a ajuda de um xamã da Amazônia, o último de seu povo e que vive em isolamento voluntário. Enquanto no filme apresenta esse universo isolado, quase um “mundo perdido”, Salgado em Gênesis busca registrar lugares distantes que remontam a origem do universo, os paraísos isolados que também já deixaram de existir com o passar dos tempos.
Cena do filme " O Abraço da Serpente, de Ciro Guerra
A ironia no trabalho de Salgado é que, em Genesis ele busca registrar lugares que já não existem mais em sua forma original; no entanto alguns dos lugares que ele registrou e das tribos que ele visitou, já deixaram de existir parcialmente ou totalmente devido os diversos eventos que ocorreram nesse período de tempo (exploração – exposição).
No filme, ainda vemos a dizimação de um povo devido interesses que massacram sua cultura, além de outras tragédias que foram inspirados em relatos reais e serviram de inspiração para o roteiro. A questão da tragédia é algo que já acompanha os trabalhos de Sebastião Salgado, muito antes de “Genesis”, tanto que nesse trabalho, sua intenção era escapar de situações mais tensas e desagradáveis que ele havia passado, tal como em “Êxodos”.