O curta-metragem “Marina não vai à praia” (2015), do diretor Cássio Pereira dos Santos, tem como enredo a história de uma jovem de 15 anos, mineira, com Síndrome de Down, que sonha em ir até a praia, mas seu único contato com o mar é através das fotos tiradas pela mãe.
Ao saber que a irmã mais velha, a Joana, vai para o litoral, juntamente com outros estudantes, numa viagem de formatura, Marina (Aline Cristina Videira) vê sua chance de, finalmente, conseguir realizar seu sonho, mas mãe e a irmã a impedem de ir. No subtexto do filme, o que realmente dificulta seu intento é fato dela ter uma deficiência.
Não convencida pelas respostas recebidas de ambas e reforçada pelo fator econômico, Marina vai ao quintal, corta as suas roseiras, sua grande paixão, evidente no filme, e vende as flores na vizinhança para levantar algum dinheiro para, assim, poder ir com a irmã. Embora seus esforços tenham sido em vão, a jovem, no entanto, não desiste do seu sonho e segue viagem escondida no ônibus que leva os estudantes, descoberta pelo namorado da irmã, que acaba sendo seu cúmplice.
O filme, aparentemente com uma história simples, leva o espectador a mergulhar no universo e nas expectativas de uma adolescente com Síndrome de Down, que não difere de outras jovens. É um filme sobre a visibilidade, respeito e de inclusão social.
“Marina não vai à praia” levanta a questão das dificuldades e preconceitos enfrentados no cotidiano pelos deficientes com Síndrome de Down para conseguir ter acesso aos direitos, que no curta-metragem é representado num desejo de Marina querer ir à praia, algo que é simples, mas, na realidade, acaba não sendo tão fácil assim.
Segundo Suad Nader Saad, no livro “Preparando o caminho para inclusão: dissolvendo mitos e preconceitos em relação à pessoa com Síndrome de Down”, as pessoas subestimam a capacidade dos portadores de Down. Para ele, estudioso no assunto, “a existência de mitos, de preconceitos historicamente construídos e a precariedade de informações ou conhecimentos referentes às potencialidades das pessoas com síndrome de Down”, que estão arraigados na sociedade, “constituem fatores que dificultam sua participação na sociedade”.
O preconceito não se encontra apenas lá fora, mas também no próprio ambiente familiar. Além disso, Saad aponta que “os pais de pessoas com deficiência mental, especialmente com síndrome de Down, se esforçam para que seus filhos se desenvolvam e cresçam e quando isto acontece, sem perceber que já cresceram, continuam, em geral, tratando-os como se fossem crianças. Dificilmente aceitam a independência dos filhos”. Como também acontece com Marina, a personagem do filme.
Outro ponto muito interessante que Saad menciona, a qual concordo, que o preconceito é um fator interveniente no desenvolvimento. Seus estudos apontam que podem apresentar habilidades bem significativas e até chegam a superar aqueles que não têm a deficiência.
“Eu acho que a viagem de Marina também representa a forma como as pessoas com deficiência lutam para acessar até mesmo os direitos mais básicos que todos devem ser capazes de ter. Aqui no Brasil, por exemplo, algumas escolas particulares estão se recusando a admitir pessoas com deficiência como alunos regulares, mesmo que a lei estabelece que todos devem ter acesso à educação básica, sem discriminação. Infelizmente, o preconceito ainda existe, e existe porque as pessoas não estão cientes de que a inclusão é uma coisa maravilhosa para toda a comunidade. Eu desejo que o nosso pequeno filme poderia ser capaz de mover o público e ajudar as pessoas a abraçar a diversidade”, menciona o diretor.
O curta-metragem “Marina não vai à praia”, instiga o espectador a refletir e a questionar, olhar as coisas por outro ângulo. Já está mais que na hora de cada um tirar as vendas dos olhos, e realmente respeitar o seu semelhante. Não apenas com diálogos bonitos, pois qualquer um faz, mas com atitudes. É preciso mudar, com urgência essa mentalidade que ainda está incutida na sociedade.
