“O Regresso”, a metáfora da vida

 

Após a grande repercussão do seu penúltimo longa-metragem, o “Birdman” (confira a crítica aqui), premiado como o Melhor Filme no Oscar em 2015, o cineasta mexicano Alejandro González Iñarritu levou para telas do cinema outro filme arrebatador. Sim, mais uma vez ele surpreende o espectador.

O filme “The Revenant”, intitulado  no Brasil de “O Regresso”, é uma adaptação do romance homônimo de Michael Punke, que é inspirado em fatos reais. A história se passa em 1822, narra uma das viagens do lendário explorador americano Hugh Glass, interpretado por Leonardo DiCaprio, que ao ser atacado por um urso, fica gravemente ferido.

Devido às dificuldades de seguir viagem com o ferido, Glass é deixado aos cuidados de seu filho Hawk (Forrest Goodluck) e pelos companheiros John Fitzgerald (Tom Hardy) e o jovem Jim Bridger (Will Poulter). No entanto, Fitzgerald mata Hawk e deixa Glass à própria sorte num ambiente inóspito.

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Enterrado vivo, o protagonista, movido pelo ódio e o desejo de vingança, trava uma luta entre a vida e a morte, uma luta pela sobrevivência. O espectador passa a acompanhar a saga do herói que, segundo Joseph Campbell, em seu livro “O Herói de Mil Faces”, é antes de tudo uma autodescoberta do indivíduo e do seu autodesenvolvimento.

A floresta é sempre imponente, como pode ser visto pelos enquadramentos em contra plongeé e nas panorâmicas, quando mostra as personagens quase desaparecendo em sua imensidão. Além disso, ela não deixar de ser um personagem na história, e as próprias condições inóspitas da floresta simbolizam o estado interior das personagens.Os simbolismos xamânicos, místicos e religiosos também estão presentes ao longo do filme.

Bem como em “Birdman”, o cineasta leva o espectador à imersão total, não é um mero espectador passivo. “The Revenant” é um filme visceral, à flor da pele. A câmera, por alguns momentos, chega quase tocar Glass, mexe com o espectador de tal forma, é como se fizesse parte daquilo, torna o espectador um cúmplice. Uma experiência sensorial. 

As personagens são bem construídas, destaque para a ótima interpretação de Leonardo DiCaprio, na qual os enquadramentos mais fechados e, principalmente, nos closes do rosto do artista, que consegue expressar tão bem a complexidade da sua personagem. Outro ator que chama atenção por sua atuação é o codjuvante Tom Hardy, não menos complexo, também impressiona.

E a direção de fotografia? Sim, essa é impecável e extraordinária. Mais uma vez Emmanuel Lubezki – com duas premiações consecutivas no Oscar, um pelo filme ”Gravidade”, de Alfonso Cuarón, pelo “Birdman”, de Iñarritu – dá um show a parte.

Lubezki trabalha muito bem com as cores, que compõem a narrativa fílmica, que é acentuada com o emprego do azul nos momentos de solidão e variações do vermelho quando surgem flashes de lembranças de Hugh Glass, e os tons acinzentados nas cenas de violência. E, por fim, a trilha sonora. Os toques pesados mesclados com a música instrumental que lembra à música indígena permeiam todo o filme, outro ponto marcante em “O Regresso”.

Caso tenha curiosidade em conhecer os bastidores, as dificuldades encontradas na produção e outros detalhes interessantes sobre o filme, recomendo que assista o documentário “O Regresso: O Mundo Desconhecido”, do diretor Eliot Raush.